Vanguart apresenta “Estação Liberdade”

Vanguart apresenta “Estação Liberdade”

Kintsugi é uma arte japonesa em que se colam os cacos de uma peça de cerâmica, e isso traz ainda maior valor a ela, tanto pela destreza do artista que fez o conserto, como pelo sentimento de valor dado à recuperação da peça, tornando-a mais forte e especial, com uma história a contar. A técnica é inspirada numa filosofia que abraça as imperfeições e a resiliência, vendo as cicatrizes como parte do processo de superação e crescimento.

“Estação Liberdade” (Deck) , novo álbum do Vanguart, poderia se chamar Kintsugi. Após a pandemia e uma pausa na carreira, os compositores Helio Flanders e Reginaldo Lincoln voltam com repertório mais forte até hoje, revelando uma maturidade que apenas duas décadas de estrada poderiam trazer. Canções bem resolvidas, flertes com o passado, refrões assobiáveis, reflexões profundas sobre partidas, chegadas, morte, vidas, sonhos e a dura realidade do dia a dia. Quando cantam na faixa de abertura que dá título ao disco “O nosso amor vai surpreender o fim” parecem estar cantando para algum amor, mas também para si mesmos — e cá estão, vivos, saudáveis, com a energia de debutantes da música que querem dar.

Destaques para “Luna Madre de La Selva”, uma espécie de reencontro com a latinidade cuiabana dos primeiros álbuns, “O Mais Sincero”, com o poderio pop de seus maiores hits de outrora, a lúdica “Rodo o Mundo Todo no Meu Quarto” (com arranjo de madeiras e sopros de Alberto Continentino) e “Pedaços de Vida”, o momento mais denso de um disco que parece ser como a vida, ou como uma longa viagem de trem, com seus sabores e dissabores, sorrisos e tristezas. Ao fim da escuta, a sensação que fica é que o Vanguart retoma o seu próprio trem, de alma lavada e coração aberto, como a estrada que os trouxe até aqui — e novamente os espera.

O Vanguart é formado por Helio Flanders e Reginaldo Lincoln.